quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

BAIRRO ALTO / SÉTIMA COLINA CURIOSIDADES SÃO ROQUE


SÃO ROQUE. NOTAS DE UM PERCURSO

Tanto o museu como a colina de São Roque - Lisboa devem o nome a este santo, natural de Montpellier (cª 1284-cª1327). Faz ora, em 16.8.2016 o 689º, supostamente o ano da sua partida. Proveniente de família abastada, nasce quando seus pais estão de idade avançada. Os progenitores sempre terão acreditado num milagre de ter um filho. Contudo, os pais morrem antes de Roque atingir a maioridade.
001(AA) Imagem de São Roque in Capela da Freguesia da Abrigada - Alenquer, onde pode ver-se o cão a entregar um pão a Roque
Quando pode dispor de alguns bens, Roque exerce com eles o que, em termos de Nova Museologia e Social, ou de Filosofia do Cristianismo, se pode classificar de ação fratrimonial. Roque distribui os bens pelos pobres, praticamente em segredo.

Sem subsistência, resolve partir para Roma. Pede esmola para sobreviver. Já em Itália, em Acquapendente, depara-se com o alastramento da peste. Não foge da mesma. Enfrenta-a e dirige-se ao hospital para ser útil.

Consta que a sua presença em Acquapendente, como noutras localidades, por onde passa, a peste se dizima em breve tempo. Ainda em Itália tem conhecimento de que a localidade de Piacenza (ou Placência) se debate com os mesmos problemas de peste. Roque parte para ser útil nesta localidade. Também aqui vai assistir enfermos.
Contudo, em Piacenza, é o próprio Roque que não resiste incólume. Fica gravemente doente, infestado dos males que cura à polução. Afasta-se por sua vontade, muito debilitado e a custo, para não ser um peso para os outros, nem contribuir para a difusão da infestação. Abriga-se junto a uma choça, sem quaisquer bens, nem mesmo água.

Roque aceita o destino.
Quer, porventura, o Altíssimo que Roque não definhe ali, isoladamente. Junto dele vê aparecer uma fonte, que se preserva na atualidade e é visitada em memória do santo, sendo as águas procuradas como bênção.

Perto desse local de abrigo há um castelo habitado por um nobre de nome Gotardo e um cão. O cão apercebe-se da presença de Roque e vem em seu auxílio trazendo-lhe alimentação que desvia do castelo. Gotardo acha estranho o inabitual desaparecimento do animal e da comida. Resolve investigar para onde o animal se dirige e Gotardo vê-se em presença do estranho.
Gotardo conversa com Roque. Resultado - um novo convertido. Gotardo renuncia, igualmente, aos bens e vai disfarçado pedir esmola; faz-se eremita. Entretanto Roque recupera e volta a Piacenza onde cura os doentes, apenas com a sua presença e a bênção das ruas com o sinal da cruz.
É altura de voltar para a sua terra. Mas em Montpellier não é reconhecido, nem pelo seu tio governador. É preso, falsamente acusado de espião, não acreditam (ou fingem, não acreditar) nele. Na cadeia, prestes ao falecimento, cuja hora da morte consta que lhe foi revelada, pede ao carcereiro que lhe dê o privilégio de ser assistido por um sacerdote para que lhe dê a extrema-unção.

Em breve, Roque é encontrado sem vida, após a presença de uma intensa luz a sair do cárcere.
Acorre o carcereiro que se depara com uma mensagem escrita: «Os que tocados pela peste invocarem o meu servo Roque, serão livres por sua intercessão desta cruel enfermidade».
A sua morte é divulgada e ocorre gente à prisão. Entre as pessoas, um familiar certifica que é mesmo Roque, pois reconhece-lhe um sinal de cruz com que Roque nascera. E assim se difunde a aura deste cidadão europeu, de Montpellier, por quase todo o mundo conhecido, especialmente pelo mundo de tradição cristã.
002 (AA) Imagem parcial do Museu de São Roque e Santa Casa da Misericórdia de Lisboa

OCULTO DO SANTO EM LISBOA
O culto, em Lisboa, data de inícios do século XVI, ao tempo de D. Manuel I e liga-se precisamente ao sítio de São Roque na 7ª colina – junto ao Bairro Alto.
Neste local, fora de portas da muralha fernandina, havia um cemitério.

Como a fama de Roque se expandira em tempos de pestes, D. Manuel I resolve solicitar a Veneza uma relíquia do santo e, para isso, constrói-se uma ermida no local, onde acaba por dar origem a um templo maior, a atual Igreja de São Roque, funcionando como local de culto e como peça integrante do Museu de São Roque.

 JESUÍTAS EM SÃO ROQUE
Em 1540, ao tempo de D. João III, entram os jesuítas e já com falta de instalações em Santo Antão (o Velho e o Novo) escolhem também o sítio de São Roque na então denominada Vila Nova de Andrade.

A decisão de se expandir a cidade para a parte de cá do vale do Rossio e das Portas de Santa Catarina, terá resultado da necessidade de albergar mais gente, devido ao desenvolvimento das atividades ligadas ao mar, à expansão pelos Descobrimentos e ao sismo e maremoto de 1531. Certa população das zonas orientais; à volta do Castelo, Alfama e Mouraria, bem como outros novos habitantes, vão-se transferindo para sul e ocidente, isto é para o Bairro Alto ou de São Roque.
003 Imagem da Capela de São João Batista com iconografia do batismo de Jesus no Museu de São Roque (gentileza – publicada in https://www.facebook.com/museudesaoroque/ )
Sabe-se que desde 1513 com D. Manuel I havia sido autorizado o plano de edificação desta zona ao serem adquiridos terrenos de propriedade e/ou usados por: Guedelha Palaçano, Filipe Gonçalves, Luís de Atouguia; terrenos do Convento da Trindade e da cerca deste convento, juntamente com a Vila Nova do Olival, junto ao mesmo convento; e ainda, os terrenos de Bartolomeu de Andrade e sua esposa - Francisca Cordovil. Daí, também, a designação de Vila Nova de Andrade atribuída ao Bairro Alto.

Posteriormente, sendo rei D. João III, fervoroso adepto dos jesuítas, facilita-lhe a vinda e a instalação nesta zona. A Ermida de São Roque passa para a Companhia de Jesus em 1553 e não tarda a sua conversão em Casa Professa, onde já existia o Convento da Santíssima Trindade dos Frades Trinos da Redenção dos Cativos que resta em memória toponímica da zona e em alguns equipamentos e edifícios, tais como o Teatro da Trindade, a Central Telefónica da Trindade, a Cervejaria Trindade e outros equipamentos e topónimos.
Com a expulsão dos Jesuítas, em 1759, as instalações desta Casa Professa são entregues à Santa Casa da Misericórdia com os seus bens de recheio.

MUSEU DE SÃO ROQUE, CAPICUA 111
Em 1898 é criado formalmente o Museu de São Roque, que acaba por abrir portas ainda em tempo da monarquia, isto é, no ano de 1905. E aqui temos a capicua 111, que a meu ver deveria ser festejada, entre 2016 /2017.

Trata-se, em minha opinião, de um dos mais interessantes museus de Arte Sacra a nível nacional e internacional, pelo espólio original que dispõe, como coleções de «pintura, escultura, ourivesaria, iluminura, têxteis, relicários, frontais de altar […]» do século XVIII.
Bem como a própria igreja de São Roque com seu conjunto de peças, entre as quais se destaca a característica e importante capela de São João Batista onde o arquiteto e ourives português, por adoção, João Ludovice tem especial intervenção nas peças decorativas.
 
004, 005, 006 (AA) Pormenores do Palácio Ludovice / Solar do Vinho do Porto
Em memória de João Ludovice, nesta zona, podem ser visitadas, não só a capela de São João Batista, bem como as suas moradas, nomeadamente a Rua de São Pedro de Alcântara, onde se encontra o Solar do Vinho do Porto e que brevemente será hotel de charme.

Na envolvente, Igreja da Encarnação ao Chiado, repousa para a eternidade Ludovice, presente na arte do Museu de São Roque, bem como no Convento de Mafra, na qualidade de Arquiteto Mor. Acresce que o Convento de Mafra faz ora 300 anos do lançamento da primeira pedra. Nesta altura já existia o Bairro Alto onde João Ludovice acaba por construir o seu palácio do qual as três imagens supra são testemunho.
Tags: Arquitetura, Bairro Alto, História, João Ludovice, Museu de São Roque

Fontes:
-CERVEJARIA Trindade, et al. – “Convento da Santíssima Trindade dos Frades Trinos da Redenção dos Cativos”. Desdobrável. Lisboa: Cervejaria Trindade, s.d. ;

Em linha, acedidos em 6.12.2016:

-AGÊNCIA Eclésia et al – Capela de São João Baptista na Igreja de São Roque https://www.youtube.com/watch?v=h1kByvmn7qs
-CML et al. – “Bairro Alto” http://www.cm-lisboa.pt/equipamentos/equipamento/info/bairro-alto

-CML, Agenda Cultural Lisboa, et al. – “Museu de São Roque” http://www.agendalx.pt/local/museu-de-sao-roque

-MUSEU de São Roque, et al. – “Museu de São Roque” https://www.facebook.com/museudesaoroque/ ; ------- - Capela de São João Baptista na Igreja de São Roque - http://www.museu-saoroque.com/pt/igreja-de-sao-roque/as-capelas/capela-de-sao-joao-batista.aspx Museu de São Roque ; Padre António Vieira ; Capela de São João Batista”

-PORTUGAL, Património Cultural, Sistema  de  Informação  para  o  Património  Arquitetónico –
“Bairro         Alto         de         São         Roque         /         Vila         Nova         de         Andrade”
 http://www.monumentos.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=5019

-SANTA       Casa      da      Misericórdia,      et al.        –        “Museu        de        São        Roque”
http://www.museudesaoroque.com/pt/igreja-de-sao-roque/historia.aspx ; -------
Robot            sorridente            mostra            Museu            de            São           Roque”

-WIKIMEDIA et al - “Companhia de Jesus”. https://pt.wikipedia.org/wiki/Companhia_de_Jesus
115 Cumprir a Terra AA "BAIRRO ALTO / SÉTIMA COLINA CURIOSIDADES"

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