terça-feira, 27 de setembro de 2016

098 AGORA DEVEM CRIAR/CONSTRUIR/RESTAURAR


A Câmara Municipal de Sintra e a Grande Lisboa devem criar efetivamente O MUSEU DE CULTURA SALOIA em Alvarinho, que será o representante da cultura mais genuína do Distrito de Lisboa.

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Razões e vantagens são múltiplas:

1.Cultura saloia relacionada com a moura/árabe é ainda uma das formas mais expressivas do Distrito.

2.Cultura saloia foi e é uma forma de vivência e de economia.

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3.Cultura saloia não está para acabar, antes se transformou/transforma e convém não perder as referências memoriais marcantes. Todas as expressões imateriais e as peças características são documentos e, em parte, monumentos que a eventual perda e degradação só podem representar uma diminuição das memórias, das capacidades de comunicação entre as populações e inter-relacionamento com cerca de quatro dezenas de países de cultura árabe e não só.

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4.Depois da I Exposição de 1956 e de uma relativa reposição em 1958; provavelmente por causa das guerras coloniais, a que se seguiu o 25 de Abril de 1974, não mais se voltou a dar a atenção devida e merecida ao povo e território de expressão saloia.

Preconceitos atinentes ao tradicional; às vivências e às novas formas de expressão levaram à dissuasão de manifestações culturais e vivências. Tanto que a evocação neste presente ano de 2016 parece ter acontecido por acaso, como é referido no livro recentemente editado para a Exposição de 2016.

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Consta no livro citado que «Foi no espaço de pouco mais de um mês que se conseguiu recolher alguma informação […]». Henrique Martins refere que «[…] um membro da comunidade de Alvarinhos teve a “sorte” de visualizar um programa na RTP2 onde este facto [da 1ª Exposição Etnográfica Saloia do Concelho de Sintra] foi mencionado» (1).

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O incentivo de atualmente existir um Presidente da República, filho de Baltazar Rebelo de Sousa, que inaugurou a dita 1ª Exposição, parece ter funcionado também como um detonador de energias e de rejeição dos fúteis preconceitos, injustificados e injustificáveis.

5.Os patrimónios, até agora preservados, têm que contar com a institucionalização de um museu de território, sedes condignas para que as peças e as memórias não se deteriorem, entrando em abandono ou no processo de entropia.

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6.É de toda a justiça e direito exigir que se institucionalize um museu e/ou ecomuseu de cultura de raiz moura, até pela razão de:

7.Argumentação perante arabistas e da civilização árabe. Poderemos dizer que respeitamos as raízes, que cultivamos boas relações com o mundo mouro/islâmico mas que somos independentes. Este raciocínio põe-se em relação a qualquer país/nação, tornados independentes e a quem assiste todo o direito de prosseguir como Nações/Estados modernos.

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8.Não faria qualquer sentido hoje, por exemplo: os EUA, o Brasil, Angola, Congo, Malawi, Namíbia, Zimbabué, Perú, México, Austrália, Marrocos, Argélia, etc., etc., serem vistos pelos antigos colonizadores como povos sem direito de se desenvolverem em relação às suas autonomias / independências. O que estou dizendo tem passado pela cabeça de algumas pessoas, nomeadamente sob uma pretensão de voltar a repor califados e reinos do antigamente.

9.Os sinais da contemporaneidade são os de prosseguir livremente as novas vidas, de respeito pelos laços de amizade, entre as nações, especialmente as que tiveram décadas, séculos ou mesmo milénios de inter-relação. A cultura saloia/moura na região de Lisboa, e em Portugal, devem livrar-se de preconceitos em relação ao viver saloio. Mais, os patrimónios e fratrimónios de raiz saloia devem ser, quanto possível, reconhecidos e institucionalizados para que os importantes acervos materiais e imateriais não se percam.

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Na visita que fiz a Alvarinhos no dia 24 de setembro verifiquei grande esforço e empenho por parte da população, não só durante este evento de (re)evocação mas também pelas peças reunidas. Contudo, nota-se que algum acervo necessita de mais cuidados: conservação preventiva, curativa e restauro. Isso só é plenamente conseguido com a instalação dos materiais num local seguro, com controlo de humidades, construção antifogos e outras proteções atinentes à preservação.

Urge não voltar a cair na indiferença, no desdém e nos preconceitos que levaram a que a região metropolitana de Lisboa caísse numa certa indiferença e marasmo cultural. Porque Lisboa e arredores não devem contar apenas com o fado (que parece ter raízes também mouras), bares, ruas, monumentos: católicos, laicos/civis, de guerra e/ou defensivos.

A economia saloia e a ruralidade necessitam voltar a ter mais vida, a vida que lhes foi, de certo modo, impedida pelo desdém e pela falta de apoio.

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Em conclusão: Encontrei em Alvarinhos e envolvências vários nomes de famílias, expressões e topónimos relacionados com a raiz moura e árabe, tais como: taberna do Luís Mouro; outras pessoas com o nome de família Mouro, Louro, Azenha; Azinhaga, o próprio nome (Al)varinhos.

O folclore, a arquitetura tradicional, os trajes, as ferramentas; também a fusão com a cultura de raiz cristã patente na Região, com o dito “Círio dos Saloios”, ou o “Círio do Termo de Lisboa” e as festas da “Senhora do Cabo” que atestam as convivências, entre formas culturais de tipo judeo-cristão e árabe.

Por todas estas razões e mais as que, certamente, com mais tempo, poderia elencar convém que este importante vetor cultural seja urgentemente protegido, como merecido e como desejável.

Sabe a muito pouco e não chega o que se tem feito nas últimas cinco a seis décadas, embora seja de reconhecer e de louvar quem efetivamente preservou, mediante tanta indiferença, em relação ao viver saloio e aos seus patrimónios materiais e imateriais, também ditos intangíveis.

Notas:

(1)MARTINS, 2016, p.1

Fontes:

ANCIÃES, Alfredo Ramos, et al. - Turismo e Museologia em Bucelas / Loures. Âmbito de pós-graduação em Museologia Social do Instituto Superior de Matemáticas e Gestão / Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, 1994

MARTINS, Henrique; Comissão Organizadora – Sintra Rural. A Comunidade de Alvarinhos e a Cultura Saloia. Comemoração dos 60 Anos da 1ª Exposição Etnográfica Saloia do Concelho de Sintra. Jornadas Europeias do Património. S.L.; S.D., 2016

TOMÉ, Artur Manuel et al. – “Exposição Etnográfica Saloia; Aldeias em Festa” in Jornal de Sintra, ano XXIII, 16 de setembro de 1956

SEBASTIÃO, João Carlos – “Viagem pelo Mundo Saloio de Alvarinhos. I Exposição Etnográfica Realizou-se Há 60 Anos” – Jornal da Região - Sintra, distribuído com o Expresso, 21 a 27 de setembro de 2016, p. 1

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