domingo, 26 de outubro de 2014

17 ARTE E COMUNICAÇÃO: SUA RELAÇÃO COM O PARÁCLITO

                 
No Império do Divino Espírito Santo, as leis evangélicas serão finalmente realizadas, não só na sua letra mas no seu espírito. Na Terceira Idade […] não haverá necessidade de leis ou instituições disciplinadoras da fé, já que esta será universal e baseada diretamente na inspiração divina […] Qualquer plebeu será Imperador, já que a sabedoria divina a todos iluminará igualmente, ou seja todos beneficiarão de uma "inteligência espiritual” […]. (1)
Os Açores prosseguem a tradicional ligação religiosa e sociológica ao culto do Espírito Santo representado na forma de pomba (2), ave desde os tempos bíblicos associada à transmissão da informação comunicação (3). 
Os patrimónios ligados ao Paráclito podem/devem dar origem a percursos associados à temática dos impérios com sua organização social, arquitetura e sinais característicos: coroas reais, bastões, pombas, flores-de-lis ….
A interpretação deste acervo traz à colação aspetos históricos: desde os primórdios do culto do Espirito Santo, a começar por Israel (4).  Chegado este culto à Europa, reforçado e reinterpretado pelo monge filósofo Joaquim de Fiore, é divulgado pelos franciscanos, com a ajuda da Rainha Santa Isabel de Portugal, seu esposo, o Rei D. Dinis e sucessivamente pelo Padre António Vieira, o poeta Fernando Pessoa, filósofo Agostinho da Silva, poetisa Natália Correia e pelas comunidades açorianas, incluindo as da diáspora que, desde o século XV, preservam as manifestações culturais (5) e o culto.
No meu recente percurso identifiquei dezenas de impérios e sinais sobre a arquitetura e calçadas, com elementos associados à Terceira Pessoa da Santíssima Trindade. Estes elementos de arte, religião,  comunicação e cultura são muito característicos do Arquipélago açoriano constituindo uma marca peculiar de identidade.
A expressão artística dos sinais e o ponto/superfície em que se encontram varia de umas localidades para outras. Convém, pois, que os estudos, os roteiros e os percursos destes patrimónios destaquem as particularidades em cada império, igreja, capela, escola, edifício público ou particular.
Estudar e comunicar estas marcas açorianas é preciso para o reforço da economia e para que os turistas sintam que vale a pena repetir visitas e retransmitir as experiências a amigos e familiares.
Quanto à Horta/Faial impressionou-me do ponto de vista simbólico a igreja de Nossa Senhora das Angústias, sucessora do primeiro templo construído na Ilha (a ex-ermida de Santa Cruz). Verifiquei na calçada do átrio da igreja a iconografia que nos remete para os primórdios do povoamento, nomeadamente o brasão de Jos van Hurtere, flamengo (Jos D`Utra ou Dutra na grafia aportuguesada), um dos primeiros colonos a estabelecer-se no Faial e Pico, onde foi capitão donatário. Ao lado figura o brasão de sua esposa D. Beatriz de Macedo, criada na Casa do Infante D. Fernando – Duque de Viseu. Ambos os brasões estão acompanhados pela iconografia do Espírito Santo na forma da coroa e da pomba mensageira.
Estes elementos caracterizam, porventura, os valores simbólicos e culturais mais evidentes do Faial/Açores no que toca ao Paráclito, cujo culto difundido para diversas partes do mundo continua como um elo de união, convívio e comunicação.
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Notas:
(2)-A adoração da Terceira Pessoa da Santíssima Trindade representada por esta ave está também associada à transmissão do sinal de paz, desde tempos pretéritos;  dilúvio/Arca de Noé, batismo de Cristo, até às comunicações columbófilas ou seja o transporte de columbogramas.
(3)“Das remotas eras em que uma pomba indicava aos fiéis o escolhido por Deus para governar a Igreja, até nossos dias, o Espírito Santo foi [inspirando com o] sopro divino […] Dessa vez, o Grande Eleitor havia decidido intervir de modo visível. Enquanto Fabiano se esgueirava por entre a assistência para se aproximar do centro da cena onde se desenrolavam os debates, uma pomba entrou por uma janela do recinto, esvoaçou elegantemente sobre os circunstantes e pousou suavemente sobre a sua cabeça: o Espírito Santo o havia escolhido!” Cf. A Pomba e os Cardeais in  http://www.arautos.org/novo-papa/site/interna/44564, http://www.arautos.org/novo-papa/site/interna/44564#sthash.dRArrP87.dpuf, acedidos em 10.9.2014 
(4)-Destaque para o batismo de Jesus Cristo em que aparece a figura da pomba.
(5)-Entrada do culto do Espírito Santo na Europa, locais específicos de adoração, ermidas e capelas, bodos/ágapes, folias, … Reforma e Contra-Reforma, Concílio de Trento, Poder real, refúgio, preservação e difusão do culto a partir dos Açores.
Fontes:
-ANCIÃES, Alfredo Ramos – Visita a Carnide com o GAM-C - Grupo dos Amigos Museu das Comunicações em março de 2013. Documento disponível na Sede do Grupo.
-Bíblia Sagrada – Lisboa: Difusora Bíblica (Missionários Capuchinhos) 11ª ed., 1984
-Joaquim de Fiore e o Espírito Santo in http://pt.wikipedia.org/wiki/Joaquim_de_Fiore, acedido em 23.8.2014
-Jos van Hurtere e  D. Beatriz de Macedo in http://pt.wikipedia.org/wiki/Joss_van_Hurtere, acedido em 23.8.2014

2 comentários:

  1. Brutus said:

    Caríssimo:

    Mais um excelente post, pelo qual o felicito.

    Ao que escreveu e que está certíssimo, face ao que li num lado e noutro e pela minha passagem por algumas ilhas dos Açores (S. Miguel, Stª Maria, Faial e Pico), afigura-se que o culto ao Divino Espírito Santo lá existente será fruto dos Cavaleiros da Ordem de Cristo, "herdeiros" da Ordem dos Templários, mercê da inteligente "negociação" que durante anos o rei D. Dinis manteve com o Papa.

    Posso acrescentar que em S. Miguel e mormente na cidade da Ribeira Grande existe em Junho desfile a cavalo, envergando os cavaleiros uma capa em tudo igual à dos Templários e uma procissão em que as moças trazem uma espécie de cabaz, mais pequeno, mas muito semelhante à dos Tabuleiros de Tomar, também em honra do Espírito Santo.

    Um abraço.

    Um abraço. # Setembro 11, 2014 2:30

    AlfredoRamosAnciaes said:

    Caro e Meritíssimo Juiz / Brutus

    O seu comentário está corretíssimo, segundo as fontes correntes, e, acrescentam algo relevante a este poste.

    D. Dinis e sua digníssima esposa foram um dos principais motores de arranque da Ordem de Cristo, das Descobertas e de uma filosofia e prática da solidariedade através do culto e impérios do Espírito Santo que nasceram em Portugal continental, onde posteriormente foram censurados/voluntariamente esquecidos/perseguidos e quis provavelmente o Altíssimo que nos Açores tivessem uma existência com mais tolerância, longe dos Poderes temporal e religioso.

    Creio que hoje em dia estes Poderes toleram a solidariedade e a religiosidade dos impérios/Espírito Santo. Eles próprios (os Poderes temporal e religioso, leia-se a Igreja maioritária) são os grandes agentes da solidariedade, através, claro está da participação dos cidadãos.

    É fundamental que tudo isto seja bem percebido, através das memórias que vamos divulgando. Mais uma vez, não resisto em dizer que as memórias são o fator imprescindível para o desenvolvimento da Humanidade.

    Mais uma abraço.

    AA

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  2. Cfr.

    http://comunidade.sol.pt/blogs/alfredoramosanciaes/archive/2014/09/10/17-ARTE-E-COMUNICA_C700D500_ES-NOS-A_C700_ORES-E-SUA-RELA_C700C300_O-COM-O-PAR_C100_CLITO-.aspx#comments

    AA

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