quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

VOLTAR A LIGAR

             
Palavras-Chave: Doutrina Social da Igreja, Economia Social, Papa Francisco, Religião.

 
O título deste artigo deriva do latim religio que significará voltar a ligar ou religar; reeleger e religião. Segundo a “ciência” dos positivistas (1) parece não haver transcendência no que toca ao género humano e ao cosmos (2); enquanto na época pós-moderna os cientistas admitem que quanto mais portas se abrem na investigação, outras mais se apresentam para abrir, quer isto dizer que, foi perdida a arrogância “científica” dos finais do século XIX e inícios do XXº. 

Se interpretarmos a vida como uma sequência de fases entre nascimento, evolução e morte, teremos uma explicação simplista da existência e da evolução; porém, a maioria dos seres humanos parece não se satisfazer com a hipótese da vida poder ser apenas uma sequência de três estádios evolutivos. De uma forma geral, quanto mais evoluímos mais questões colocamos. Não nos contentamos com explicações redutoras e, por isso, continuamos à procura de significados; o bem, o mal, a religião, o sacrifício em favor de causas nobres, o abandono de pessoas e bens e a poluição que levam à entropia (3) e ao empobrecimento de pessoas, solos e mares. À medida que o mal evolui as sociedades procuram o equilíbrio no bem, condenando aquele, corrigindo comportamentos iníquos e ilegítimos, recorrendo à religião e à Lei. Não é por acaso que às antigas Escrituras correspondentes ao Antigo Testamento e à Tora se chama Lei; e o Corão contém um conjunto de Normas e Leis.

Na vida civil existem conjuntos de Leis, a começar pelas Constituições. Contudo percebemos que a Constituição ou Carta Magna não é suficiente para a ordem pública e a eliminação das desigualdades. Segundo a “Lei do pêndulo” (4) o comportamento humano oscila entre uma situação de religiosidade ou teísmo e a oposta de ateísmo. Numa situação intermédia há um período de abrandamento de crenças. Por vezes chama-se a esse posicionamento uma atitude agnóstica.

A teoria, também dita lei do pêndulo induz-nos a pensar que, a uma situação de religiosidade, sucede o enfraquecimento, o descrédito até voltar para o lado da incredulidade e ateísmo. Depois deste curso, um outro se inicia, repetindo-se as mesmas fases. Acontece que, no mundo atual, o ser humano ainda não conseguiu uma forma de vivência baseada na justiça social; daí a procura de consolos na religião, uma forma de voltar a ligar o que outrora se desligou pela ânsia do ter, desrespeito pelo semelhante e violação da “Lei divina”. (5)

Não será por acaso que após as crises mundiais dos mundos, capitalista e socialista, há quem interprete que estamos atualmente no dealbar da “Terceira Igreja” de que fala Frei Bento Domingos (6).  A educação é a esfera social/cultural que mais tempo leva a ser interiorizada, daí que não é de estranhar o tempo de crises religiosas e económicas/financeiras, motivo que nos leva a crer que, pela mesma teoria do pêndulo, este se encontra próximo da posição superior/negativa, não podendo aí fixar-se; logo o pêndulo regressará a um reassumir dos valores religiosos.  

O advento da “III Igreja” e de um Papa que está a revelar-se próximo dos cidadãos (Leigos, na expressão tradicional da Igreja) irá provocar mudanças no seio do papado e das estruturas eclesiais, como também a nível social. Esperamos que também ocorram boas notícias na economia e na finança.


«Esta economia mata» (7). A expressão podemo-la encontrar na “Alegria do Evangelho” (Evangeli Gaudium), 53 do Papa Francisco, uma das expressões que mais tem sido divulgada, após a eleição do Papa e a publicação da exortação apostólica: «Por conseguinte, ninguém pode exigir-nos que releguemos a religião para a intimidade secreta das pessoas, sem qualquer influência na vida social e nacional, sem nos preocuparmos com a saúde das instituições da sociedade civil, sem nos preocuparmos com os acontecimentos que interessam aos cidadãos […]». (8).

Se estivermos atentos às novas publicações biblioteconómicas e jornalísticas encontramos uma grande procura pela divulgação do pensamento de Francisco I que, para lá da sua própria mensagem, se baseia em precursores. Digamos que Francisco veio expor a mensagem com frescura, coragem, resiliência, inovação, frontalidade e doçura de carácter. Se interpretarmos o tempo ou a História como um tempo estrutural de longa duração, verificamos que o “Advento da Terceira Igreja” não é um fenómeno exclusivo deste novo Papa, embora ele tenha imprimido uma novidade e aceleração do processo, incluído um retomar da Rerum Novarum (9). Este marco da DSI - Doutrina Social da Igreja, levado à letra teria evitado crises e revoluções nos países. Logo, a posição, a insistência e a inovação por parte do Papa Francisco corresponde no fenómeno religioso a um reforço e readaptação da mensagem para voltar a ligar o equilíbrio que se perdeu. Será o tempo de retoma do diálogo, consciencialização e luta, esperemos que justa e pacífica. Poderemos, porventura, provar que a entropia também é reversível.
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(1) Sistema filosófico de que Augusto Comte foi o principal impulsionador, baseado em  factos e experiências. Exclui a metafísica e o sobrenatural.

(2) «A partir da renascença scientifica do seculo XV, o espirito humano recebeu um alimento abundante e fortificante. A educação do espirito humano, começada anteriormente pelos gregos, tinha sido interrompida por um tempo de estacionamento, um longo sommno intelectual de quatorze seculos. Onde se origina esse tempo de estacionamento? Não procurarei aqui sabel-o, ainda que a causa d`ele seja evidente para quem conhece a historia real e não essa outra historia fabricada intencionalmente pelos theologos e philosophos». (cf. O Homem segundo a Sciencia / Luiz Büchner. Porto: Livraria Chardron de Lelo & Irmão, Ldª, 1912, p.2.- o texto original data de Darmstadt, maio, 1869).  
(3) Sobre o conceito de entropia cf. http://pt.wikipedia.org/wiki/Entropia, http://www.brasilescola.com/fisica/entropia-segunda-lei.htm, acedidos em 26.12.2013


(6) Sobre a “Terceira Igreja” Por cf. Jornal “O Público” de  15.12.2013, disponível também em http://www.publico.pt/sociedade/noticia/o-advento-da-terceira-igreja-1616280, acedido em 25.12.2013.


(7) Cf. Jornal Económico 26.11.2013, disponível também em http://economico.sapo.pt/noticias/esta-economia-mata_182478.html, acedido em 25.12.2013.

(8) Papa Francisco - A Alegria do Evangelho: Exortação Apostólica Evangeli Gaudium. Prior Velho: Paulinas Editora, 183.

(9) "Das Coisas Novas", encíclica do Papa Leão XIII, 1891), sobre as condições das classes trabalhadoras (cf. http://pt.wikipedia.org/wiki/Rerum_Novarum, acedido em 25.12.2013.

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

01 O MUSEU DE COMUNICAÇÕES: GESTÃO DE COLEÇÕES DE CORREIOS E TELECOMUNICAÇÕES - FASE ROMÂNTICA


Les Musées se renovent, se transforment, se modernisent au servisse de leurs colections, au servisse du public qu`ils tentent de séduire” (1)
 

FASE ROMÂNTICA

          A primeira referência ao museu postal data do ano de 1878, à qual se liga o nome do conselheiro Guilhermino Augusto de Barros, de quem destacamos as seguintes palavras:

          “Quanto à Biblioteca e Museu Postal procurarei ir coligindo quanto lhe respeita e for possível obter, compenetrando-me do pensamento civilizador que inspira tal lembrança” (2). Destaca-se que a então designação de museu postal era abrangente, incluindo os patrimónios de correios, mas também, de telecomunicações e faróis, sendo que nesta fase inicial que caraterizamos de romântica a maioria dos objetos museológicos recolhidos pertenciam aos setores de comunicações à distância (telecomunicações) com ou sem fios.

          O ano de 1878 foi de particular importância para os Correios Telégrafos e Faróis dado que além de várias realizações, referidas no relatório postal do ano económico de 1877-1878 os Correios Telégrafos e Faróis contaram, a partir de 1877, com mais dois órgãos de importância para a documentação, memória, gestão e cultura. Foram esses órgãos, a biblioteca e o museu postal.

          Qual a evolução do museu postal dos Correios Telégrafos e Faróis?

          Desde as primeiras notícias sobre a criação do museu e até 1934 pouco se sabe. Contudo o centro de documentação e informação e o museu da Fundação Portuguesa das Comunicações têm no seu acervo um núcleo de objetos que são resultantes da atividade coletora nos Correios Telégrafos e Faróis do século XIX e foi essencialmente com essas peças que se (re)inaugou o museu em 11.11.1947. Passada a fase inicial, o museu deixou de ser referido na documentação de gestão.

          Com a ação de Godofredo Ferreira (3) e de Luís de Albuquerque Couto dos Santos (administrador-geral e correio-mor dos CTT entre 1933 e 1965) veio de novo a encarar-se a viabilidade do museu. Em 1947 é (re) inaugurado como se nunca tivesse existido, pois não lhe fazem referência à fase anterior.

          No ofício de 18 de setembro o Diretor dos Serviços Administrativos dos Correios Telégrafos e Telefones dirigiu-se ao Ministro das Obras Públicas e Comunicações nos seguintes termos:

“Para ocupar o lugar de Conservador Chefe do Museu dos CTT criado [ficaria melhor usar o termo (re)criado ou (re)inaugurado] por sua Ex.ª o Ministro de 14 do mês de Julho p. p.º, tenho a honra de indicar a Vª Exª o nome do Sr. Dr. Mário Gonçalves Viana”.   

          O ofício prossegue referindo o vasto curriculum vitae do Dr. Mário Viana, assim concluindo:

          “Parece-me, pois, que ele [Mário Gonçalves Viana] estará em ótimas condições para ocupar o cargo de Conservador-Chefe do nosso Museu e dar-lhe forma e organização que o tornem, em breve, uma desvanecedora realidade” (4).

Obs.: Faz em dia de São Martinho - 11/11, 66 anos (1947-2013) que foi (re) inaugurado o museu da atividade postal e telecomunicações que começou por se chamar Museu Postal, depois Museu dos CTT, Museu CTT da Comunicações e finalmente Museu das Comunicações depois de integrar patrimónios dos Correios Telégrafos e Faróis, CTT, TLP,Teledifusora de Portugal, Marconi, PT e ANACOM

Notas:

(1)    Landais, Hubert – Directeur des Musées de France in Faire un Musée: Comment Conduire une Operation Museographique?

(2)    Barros, Guilhermino Augusto de – in O Museu dos CTT Português. Lisboa: Ed. dos Serviços Culturais dos CTT, 1973, p. 9

(3)    Godofredo Alberto dos Santos Ferreira (1886-1981) ficou célebre nos CTT como autor de várias obras e exímio compilador de documentos históricos que trouxeram ao arquivo histórico e ao museu dos CTT uma das maiores contribuições para a divulgação da memória da empresa.

(4)    Ofício in processo individual do arquivo biográfico dos funcionários dos CTT.

sábado, 19 de outubro de 2013

Marcas na Beiraltíssima: Terras do Demo e de Magriço - Preparação de Visita

Palavras chave: Aquilino Ribeiro; Arquitetura românica; Castelos da Beira; Correio antigo; Frei Roque do Soveral; João Rodrigues “Tçuzu”; Magriço; Marialva; Marquês de Pombal; Moimenta da Beira, Penedono; Sernancelhe; Telegrafia heliográfica; Trancoso.

Objetivos: Conhecer patrimónios, de forma a que possamos fruí-los e retransmitir a informação aos nossos familiares e amigos. Porventura já todos vimos, algures na televisão, ou ouvimos falar do património em referência, mas isso não resultou em verdadeiro acumular de saber, talvez devido à velocidade com que nos passaram as imagens e as palavras.  


Privilegiando o conhecimento adquirido in loco, visitaremos, aldeias, vilas, casas, museus, bibliotecas, castelos, conventos, igrejas, casas de câmara, pelourinhos, cadeias antigas, etc. Falaremos, nos locais apropriados, sobre Magriço (Álvaro Gonçalves Coutinho) e da sua família – os Fonseca/Moura/Coutinhos, bem como abordaremos o nome de João Rodrigues (Tçuzu “O intérprete”), autor do primeiro dicionário japonês-português (ca. 1603) e também da primeira gramática da língua nipónica (ca 1604), bem como de uma História do Japão.  


Teremos umas palavras sobre frei Roque do Soveral, natural de Sernancelhe, que escreveu a primeira História do Santuário da Luz, foi Geral da Ordem de Cristo em Tomar e pregador notável, entre outros atributos. Em frente às Casas dos Carvalhos, em Sernancelhe, falaremos da família do Marquês de Pombal e do solar dos Carvalhos, onde o próprio Marquês, antes de o ser, viveu com seu avô, não sendo, porém, certo que ali tenha nascido.


Aquilino Ribeiro será evocado frente à casa onde nasceu (Carregal-Sernancelhe), ou na sede da Fundação que tem o seu nome, situada a alguns quilómetros da terra natal (Soutosa-Moimenta da Beira). Falaremos de personalidades e do tempo da arquitetura românica (igrejas, castelos, pontes) no povoamento, reconquista e forais que estiveram na base da independência e da autonomia das populações. Haverá referências ao transporte e distribuição de correio rural, a pé e a cavalo, bem como às linhas heliográficas que serviram as terras da Beira e Trás-os-Montes.


Será distribuída, à partida ou no local, informação que documentará com mais pormenor o percurso. Se perguntarmos à maioria das pessoas quem era o Magriço, provavelmente não nos saberão dizer muita coisa e, no entanto, acerca deste cavaleiro podemos tecer informação sobre o espírito cavalheiresco; a lealdade, mas também podemos relacionar com a aventura, o desejo de conhecimento de outras terras e de outras gentes, tal como Camões no-lo deu a conhecer.


Alfredo Ramos Anciães, Sintra, 2013

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

TERRAS DO DOURO SUL E BEIRAS NO SEU ALVOR


(por Alfredo Ramos Anciães - Sintra, outubro 2013) 

Tinham à frente da sua administração e defesa um elemento da nobreza, apoiado por uma guarnição de homens e uma fortificação, geralmente um castelo.  

No tempo do império romano já havia a ligação de Roma com as populações do Douro e Beiras que viviam em torno dos antigos castros, reconstruídos e/ou transformados em: «… nos otros castellos id est Trancoso [concelho do distrito da Guarda], Moraria [Moreira de Rei do atual concelho de Trancoso], Longobria [ou Longobriga, o mesmo que Longroiva] Senorozelli [atual conselho de Sernancelhe]; Nauman [Numão], Muxagata [assim ainda designada]  e Almindula [atual Almendra - aldeias do  atual concelho de Vila Nova de Foz Côa]; Alcobria [atual aldeia de Alcarva que fez parte do concelho de Penedono e mudou para o concelho da Meda]; Caria [do atual concelho de Moimenta da Beira], cum alias penellas [pequenas penhas/elevações, outeiros e/ou pequenas fortificações] et populaturas [povoações com afinidades de vida]…» (cf. BARROCA, Mário Jorge, ed. cit.)

 As Terras nasceram como agregações geográfico-administrativas outrora ligadas a Civitates (a) e prefiguram  uma espécie de unidade baseada em caraterísticas de defesa e comunicações: marítimas, caminhos e bacias hidrográficas. A invasão árabe aproveitou os castros e estruturas romanas pré existentes, tendo em alguns casos reforçado as estruturas de defesa.

Uma nova fase foi inaugurada em 868 com a presúria do Porto pelo conde Vímara Peres. Antes da nacionalidade portuguesa, a defesa apoiava-se em castelos roqueiros, entre eles a Civitas de Anegia, também designada Cividade de Eja, junto a Entre-os-Rios, concelho de Penafiel. Sobranceiro a Entre-os-Rios encontra-se ainda uma capela dedicada a Nossa Senhora da Cividade, sendo que a designação de “Cividade” parece basear-se no modelo de  organização do poder condal que precedeu a designação de Terras (b).

Fernando o Magno (10161065 rei de Leão (1037-1065), conde de Castela (1035-1065), reconquistou muitas terras no Douro e Beiras. Os primitivos castelos sofreram obras de ampliação e reconstrução, sendo em muitos casos impossível discernir as marcas arquiteturais em causa.

Estas posses dão-se no seguimento da Reconquista mas os titulares de terras mudaram conforme os fluxos de avanço e recuo, ante a mourama, acabando as Terras reconquistadas por ser entregues, pelos “presores” Godos ou neo-Godos e pelos primeiros reis (c), aos que mais se destacaram em valentia, serviços, lealdades  e amizades. 

Os castelos românicos e/ou fortificações dos atuais concelhos de Lamego, Moimenta da Beira, Sernancelhe, Penedono, Trancoso, Meda, Vila Nova de Foz Côa ..., cairam em poder de Almansor nos finais do século X e reingressaram à posse de cristãos conforme os avanços da Reconquista.

 A construção dos principais castelos era de iniciativa dos condes. É neste contexto que se dá a fundação do castelo de Guimarães, a mando da condessa d. Mumadona Dias, descendente de neo-Godos Asturianos envolvidos na Reconquista Cristã. Atingida uma idade relativamente avançada a célebre Mumadona resolve retirar-se para o mosteiro de São Mamede de Guimarães, tendo doado através de testamento, escrito em latim, os seus bens à sobrinha d. Flâmula, também conhecida por d. Chamôa Rodrigues, filha do conde d. Rodrigo e de d. Leogúndia Dias.

D. Flâmula fica, assim, senhora de muitas Terras do Douro Sul e Beiras até que os cavaleiros integrados nas cruzadas, ao tempo do conde d. Henrique e d. Afonso Henriques vêm, reocupar, reconquistar e redistribuir propriedades fundiárias e construções fortificadas.
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(a)  Civitates (do latim) subdivisões de um conventus, sendo o conventus um distrito jurídico-administrativo no tempo do Império Romano. Exemplo: Conventus Bracarum (Braga) que por sua vez pertencia à Província Tarraconensis [Município no sul da Catalunha - Espanha]; Conventus Scalabitanus (Scallabis/Santarém) da Província Lustitânia e Conventus Pacencis (Paz Julia/Beja), também da antiga Lusitânia.

(b)  Hoje em dia a denominação de Terras alargou-se com base nas caraterísticas económicas, culturais e históricas, tal como: “Terras do Demo, Terras de Lafões, Terras da Beira, Terras de Sicó, Terras de Xisto …”.

(c)   Já quando Afonso III das Astúrias conquistou Lamego aos Mouros, começou o Povoamento do Douro com a assenhoramento de Terras pelos «presores Godos». «E os que assim entravam à posse, ficavam senhores absolutos de tudo o que à força das armas haviam tomado» escreve Santa Rosa Viterbo no seu elucidário. Estes «presores» criaram vilas rurais, vilares e casais que deles receberam os nomes, como Leomil, Baldos, Alvite, Toitam, Mileu, Segões, Sever e Ariz”, atualmente fazendo parte do concelho de Moimenta da Beira / Terras do Demo. Cf. História do Município de Moimenta da Beira / Terras do Demo, ed. cit.

Fontes:

- A Romanização da Península Iberica in


- Caria e Moimenta da Beira  in http://www.freguesias.pt/portal/apresentacao_freguesia.php?cod=180710, acedido em 4.10.2013.

- Castanhas da Beiraltíssima e Património Envolvente / Alfredo Ramos Anciães in http://cumpriraterra.blogspot.pt/2012/10/castanhas-da-beiraltissima-e-outro.html, acedido em 4.10.2013.


- “Do Castelo da Reconquista ao Castelo Românico” / Mário Jorge Barroca in http://ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/3803.pdf, acedido em 26.12.2012.

- História do Município de Moimenta da Beira / Terras do Demo in http://cmmoimenta.dev.wiremaze.com/PageGen.aspx?WMCM_PaginaId=27703, acedido em 7.10.2013.

- Mumadona Dias in http://pt.wikipedia.org/wiki/Mumadona_Dias, acedido em 3.10.2013.

- Fortificação e Povoamento no Norte de Portugal (Séc. IX e X) / Mário Jorge Barroca in http://ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/3886.pdf, acedido em 4.10.2013.

sábado, 21 de setembro de 2013

CARNIDE EM FESTA

No mês de setembro decorrem as solenidades, festa e feira de Nossa Senhora da Luz. Durante quase um mês há barraquinhas com farturas, petiscos, artesanato e peças utilitárias para casa e jardim. Para lá destes atrativos há, para o aconchego do corpo e da alma, cerca de 20 restaurantes na zona histórica e proximidades.
 
Para deleite do espírito e do conhecimento, Carnide tem cerca de 40 bens classificados ou em vias de classificação de interesse municipal, para lá da Igreja de Nossa Senhora da Luz e das marcas da sepultura da infanta d. Maria (bens de interesse nacional). 
 
Esta infanta e 6ª duquesa de Viseu, filha de d. Manuel I,  foi considerada a mais bela da Europa de então (Séc.XVI/XVII). Camões cantou a paixão e as desilusões do amor platónico com a infanta em sonetos e redondilhas. A história amorosa liga-se, pois, a Carnide, onde d. Maria repousa. O poeta dos Lusíadas terá frequentado Carnide para, à distância, apreciar a beleza do amor proibido quando d. Maria vinha verificar as obras da Luz.
 
Descendo ao Metropolitano e envolvência, as duas Estações oferecem-nos a beleza de centenas de expressões plásticas de José de Guimarães (Estação de "Carnide") e Manuel Cargaleiro (Estação do "Colégio Militar/Luz"). As temáticas são, grosso-modo, relacionadas com a "carne, tentação, luz" e cultura.
 
Quem quiser adquirir e enviar, por via postal, uma lembrança para memória, encontrará em Carnide a Estação Postal do Colombo (no Centro Comercial) e os Postos de Correio: um no Bairro da Quinta da Luz, outro na Rua da Fonte/Largo da Praça e outro ainda no Centro Cultural de Carnide, Bairro Padre Cruz.
 
A história de Carnide/Luz, inspira-nos os dois versículos seguintes do profeta Isaías: “[…] Se tirares da tua casa toda a opressão, o gesto ameaçador e o falar ofensivo; Se deres pão ao faminto, e saciares a alma do pobre, a tua LUZ brilhará na escuridão, e as tuas trevas tornar-se-ão como o meio-dia”  [As capitais em LUZ são nossas]. (Isaías 58, 9-10).

No escudo do brasão de Carnide encontra-se a flor-de-lis e uma cântara, dois pimenteiros e uma barretina que caracterizam as raízes históricas da freguesia, outrora termo rural de Lisboa, localidade de culto ao Espírito Santo e Nossa Senhora da Luz, hospital para peregrinos e carenciados, feira, quartel,  colégio militar, etc.

O mês de Setembro é o mais animado com a feira/festa. Pelo Natal e junho, as coletividades, escolas e junta de freguesia esmeram-se em atividades de decoração e animação nas marchas populares. Às quintas-feiras há o programa televisivo de entrada livre "viva a música" (antena 1) com a apresentação de Armando Carvalheda no Teatro/Largo da Luz.

Carnide continua a sua vocação de festa e animação.

domingo, 1 de setembro de 2013

PEDRO TEIXEIRA - O BANDEIRANTE

 

Hoje venho falar de Pedro Teixeira.
O nome é praticamente desconhecido, quer nos programas escolares, quer no senso comum ou histórico dos portugueses e quiçá, brasileiros. Contudo esta figura é das mais relevantes na estirpe dos heróis que fizeram o imenso Brasil. Felizmente, também, esta figura tem vindo a ser recuperada nos últimos tempos. "Vale mais tarde do que nunca", como diz a gíria popular.  
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(Estátua em Cantanhede no "Largo Pedro Teixeira")
Pedro Teixeira  nasceu cerca de 1585 em Cantanhede e rumou ao Brasil em 1607, onde doou todo um esforço de mais de tinta anos da sua vida, tendo falecido no ano de 1641, pouco tempo após Portugal ter retomado a independência em relação à Corte dos Filipes de Espanha.

Pedro Teixeira não é o único nome sobre o qual devem repousar os louros do acréscimo de cerca de metade do imenso Brasil mas foi o principal organizador e o lider do desbravamento do rio Amazonas e regiões afins, nas quais fez reconhecimento e marcação do território em nome do Reino de Portugal, pese embora o facto de, na altura dessa exploração, Portugal estar sob o domínio dos Filipes.
Do Governador da Capitania do Maranhão, Jácome Raimundo de Noronha recebeu ordens e alguns meios que lhe permitiram completar a exploração Amazonas acima, até à cidade de Quito, capital do actual Equador. Com uma frota composta por cerca de 50  grandes canoas, setenta soldados e 1200 Índios com flechas. Índios estes que viram em Teixeira um lider recto, tendo cativado este povo com a sua personalidade e hospitalidade, sendo que ficou conhecido na comunidade como o «Homem Branco, Bom e Amigo». 
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(Toponímica no Alto da Ajuda - Lisboa)
Como militar participou nas lutas contra os franceses, holandeses e ingleses que disputavam negócios e terras no Brasil. Recentemente, em finais de 2009, a sua figura foi homenageada no Senado brasileiro. Por esta altura Aloízio Mercadante, Senador brasileiro implementou "um movimento para resgatar a memória de Pedro Teixeira". A sessão de homenagem teve lugar em Brasília no Senado Federal para comemorar os 370 anos da expedição de Teixeira, o "desbravador" da Amazónia. Diz Mercadante, lider da bancada do PT que "A Pedro Teixeira se deve quase metade do território" do imenso Brasil.
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(Associação e toponímica "Estrada de Pedro Teixeira" no Alto da Ajuda)
Além da comemoração dos 370 anos Mercadante liderou o Projecto Lei para que o nome de Pedro Teixeira venha a ser inscrito no chamado Livro de Aço residente no Panteão da Liberdade e Democracia em Brasília, bem como propõe a inclusão nos curriculos escolares. Sendo inconcebível esta lacuna no Brasil e também em Portugal, vale mais ser preenchida tarde do que nunca. Honra seja feita a Mercadante promotor da proposta, revelando-se um patriota que reconhece os heróis do seu país que proporcionaram um dos maiores países do mundo; que está em franco progresso e é dos mais respeitáveis, até por causa do valor da Amazónia no contexto mundial.
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(Toponímica no Restelo - Lisboa)
Em relação a marcas distintivas de memória e existentes em Portugal referentes a Pedro Teixeira, temos conhecimento do "Casal Pedro Teixeira", situado na Rua de Nossa Senhora da Ajuda em Lisboa, lugar onde foram construídas as denominadas cozinhas D`El Rei. Não sabemos ao certo se este Casal fora  propriedade do próprio Pedro Teixeira ou se em sua memória lhe deram este nome. Acrescente-se que as Cozinhas D`El Rei e Rua do mesmo nome se encontram em Ruas e terrenos contíguos ao "Casal e Estrada Pedro Teixeira" no Alto da Ajuda. 
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(Casal "Pedro Teixeira" no Alto da Ajuda)
Há ainda a "Rua Capitão-Mor / Pedro Teixeira / Conquistador do Amazonas / Século XVII" no Restelo. Para lá destes distintivos de memórias, em Lisboa; no município de Cantanhede encontra-se uma estátua de grandes dimensões (3,5x1,5x1,5 m) situada no Largo do mesmo nome (Largo Pedro Teixeira. Vide. imagem 1). Em Cantanhede encontra-se ainda uma escola com o nome "Escola Pedro Teixeira". A empresa de telecomunicações Portugal Telecom  estabeleceu recentemente um protocolo em que irá premiar os melhores trabalhos sobre a vida e obra deste explorador. Os prémios serão dados aos melhores trabalhos, quer realizados em Portugal, quer no Brasil. Espera-se assim, que após estas publicações haja mais incentivos para Pedro Teixeira ser apreciado como uma das figuras mais relevantes da História dos países lusófonos. Que lhe seja feita a devida homenagem.

  • (a) Quanto às grandes chaminés do Casal Pedro Teixeira existem duas teorias: 1) Terão servido como fornos de cal para a cidade de Lisboa ou 2) como assistência a recepção de caça real, conforme consta em memórias de populações locais.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
Cronologia da Construção do Brasil  1500-1889 / Orlando da Rocha Pinto. Lisboa: Livros Horizonte, Ldª, 1987
Dicionário Histórico, Corográfico, Heráldico, Biográfico, Bibliográfico, Numismático e Artístico", Vol III / Manuel Amaral ; João Romano Torres.- Ed. electrónica 2000-2009
O Último Bandeirante / Pedro Pinto. Lisboa: A Esfera dos Livros, 3ª ed., Abril 2009
http://www.arquenet.pt/dicionario/filipe2.html
http://www.brasilescola.com/biografia/august-de-saint-hilaire.htm
http://www.cm-cantanhede.pt/
http://www.decufcg.edu.br/biografias/AugustS.html
http://www.flickr.com/photos/vitor107/64589083/
http://sol.sapo.pt/blogs/jorgepaz/default.aspx
www.cantanhede.ma.gov/br/2009/index.php
www.geneall.net/P/forum_msg.php?id=245827
www.independentedecantanhede.com/
www.pai/pt/Cantanhede/Escolas.html
Pesquisa oral in situ entre as populações locais em Dezembro 2009 e Janeiro 2010.
Foto 1 gentileza de http://www.flickr.com/photos/vitor107/64589083/
Restantes fotos do A. do blogue.
Ficheiros Internet acedidos entre Dez. 2009 e Jan 2010.

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

HÁ LUZ EM CARNIDE: LOCALIZAÇÃO. DIMENSÃO RURAL


            Situada a norte e noroeste da Capital, Carnide teve uma longa tradição rural, desde os primórdios como termo de Lisboa, havendo documentação escrita a partir da segunda metade do século XIII, referindo-se a esta localidade.

            Foi frequentada por reis. Consta que D. Afonso V, em 1442, fez doações de terras em Carnide e que o próprio monarca aqui terá residido temporariamente. Este monarca frequentou Carnide, nomeadamente por altura do culto ao Espírito Santo e início do culto a Nossa Senhora da Luz. Fez parte da irmandade local. Temos notícia de que o seu filho D. João II também frequentava Carnide, havendo uma carta do rei, datada deste termo de Lisboa. Um restaurante na Rua do Norte tem a denominação de “Restaurante Paço de Carnide”. Esta expressão liga-se, provavelmente à tradição das memórias, onde neste sítio ou na proximidade se situaria o antigo paço rural.

            As terras férteis e os bons ares atraíram agricultores, bem como nobres e burgueses que vinham para aqui, temporariamente, acabando alguns por se fixar em Quintas agrícolas /ou apalaçadas, algumas das quais com a função de retiro quando a capital era atingida por pestes ou quando marinheiros, viajantes e emigrantes vinham para aqui descansar, o espírito, a alma e o corpo.

            O “termo de Lisboa” era uma espécie de arrabalde constituído grosso-modo pelas atuais freguesias de Benfica, Carnide, Ameixoeira, Charneca e Lumiar, onde existiam quintas, campos, prados, bosques e pequenos aldeamentos.

sexta-feira, 5 de julho de 2013

MARCAS EM CARNIDE: DA LUZ AO ESPÍRITO DE BAIRRO

Aborda-se, nesta visita uma seleção de patrimónios materiais de valor artístico, mas também a vertente imaterial ou espiritual de Carnide, como terra de “luz”, devoção, romaria, feira e festa com a particularidade rara de dois patronos/oragos (Senhora da Luz e São Lourenço). Não esquecemos o culto histórico ao Espírito Santo no Alto do Poço (atrium ancestral de Carnide) e a fixação de comunidades religiosas, tais como os Templários, no seguimento da reconquista. Referiremos também o papel da Ordem de Cristo, bem como o papel dos Franciscanos, entre outras irmandades que aqui desenvolveram e desenvolvem trabalho social, cultural e humanitário.
            O turista recém-chegado a Carnide que entre de súbito pela zona histórica, vindo pela Estrada da Luz até à Rua da Fonte e encontre um edifício com a construção interrompida, há vários anos, às portas do bairro histórico, dirá que Carnide é uma freguesia parada no tempo, sem alma e sem gosto. Porém, se o mesmo turista se tornar visitante atento, sem clichês pré-concebidos, se começar por fruir um pouco do renovado Jardim da Luz, entrar na igreja, ler e meditar sobre o que foi e o que é o complexo religioso, educacional e social do Largo/Jardim da Luz;
            Se entrar nos espaços tradicionais e referenciais, “Restaurante Jardim da Luz, Carnide Clube, Espassus 3G, Teatro D. Luís Filipe, Centros Culturais e Biblioteca Natália Correia”, entre outros;
            Se fizer uma visita aos edifícios e organizações com sede nos ex-conventos; se analisar a obra realizada pela Junta de Freguesia e Câmara Municipal, destacando-se o apoio à cultura e a várias organizações de âmbito social e comunitário;
            Se participar em eventos nos teatros, centros culturais e igrejas; se assistir aos programas “Viva a Música – Música Portuguesa RTP”, no Largo da Luz, apresentado regularmente por Armando Carvalhêda;

            Se visitar exposições na sede da Junta de Freguesia e outros espaços comunitários, apreciar locais em que perdura uma tradição e um “espírito de bairro”; então o visitante atento, ficará com uma ideia bem diferente de Carnide daquela com que se deparou ao entrar subitamente na freguesia.

            O “bairro histórico” e a freguesia merecem ser observados na sua totalidade, de preferência com uma explicação prévia, tendo em conta a herança patrimonial de Carnide. Nos tempos difíceis que correm, as instituições desta freguesia e paróquia conseguem dar apoio social, cultural e humanitário às populações num esforço meritório e de referência.

            Carnide suscita particular interesse, até como caso de estudo, começando pelos significados etimológicos, passando pelo seu historial, o sentido das suas marcas culturais e patrimoniais, a “Luz”, o “Espírito Santo”, o “Espírito de Bairro” que teimam em prevalecer entre as comunidades que aqui são referência.
            É altura de uma abordagem integrada desta freguesia e paróquia. Tal abordagem holística não será por nós conseguida mas vamos iniciá-la e à nossa maneira. Contando com a sua participação conseguiremos, certamente, ampliar a informação e renovar o interesse para fruir este ex “termo” de Lisboa.

            Falaremos da origem do culto a Nossa Senhora da Luz, da Purificação ou da Candelária com raizes em Israel mas sendo igualmente um fenómeno de divulgação quase exclusivo da portugalidade.

            Abordaremos motivações para o apoio ao culto mariano e outros santos, a que não serão alheios  factores como os ligados à Contra-Reforma e ao Concílio de Trento. E ainda a popularidade do culto, festas e folias à volta do Espírito Santo que, em muitos casos, deixou de agradar à Igreja maioritária, bem como ao poder político.

            Tal popularidade e manifestações à volta do Espírito Santo tornaram-se perigosas (ou, pelo menos, pensaram ser perniciosas) para a manutenção da ordem. Daí a extinsão ou apagamento destas manifestações em Portugal continental. Acabou por se salvar o culto, folias e “impérios” nos Açores e no Brasil onde, longe da corte e da posição mais “ortodoxa”/romana, sobreviveu, não obstante as proibições civís e a retirada de apoios do clero maioritário nos espaços de culto, nas procisões e nas folias.

            Este culto em Carnide leva-nos ainda a falar dos Templários e das teorias milenaristas do monge cisterciense Joaquim de Fiore mas também das raizes judaicas e bandárricas (de Bandarra – célebre sapateiro de Trancoso, de que há marcas em Carnide). O milenarismo e o culto do Espirito Santo leva-nos ainda a referir o padre António Vieira, Fernando Pessoa, António Quadros e Agostinho da Silva.

            Tal como aconteceu com o culto de Nossa Senhora da Luz, o culto do Divino Espírito Santo (hoje em dia alterado), também é um fenómeno de divulgação pelo mundo através dos povos lusófonos, sobretudo no mundo ocidental. Aproveita-se para a demanda de um pouco de “luz” sobre o modo como o conceito de Espírito Santo evoluiu até ser considerado Deus, a par do Pai e do Filho, com identidade e vontade própria e sobre o modo como este culto chegou a Portugal, tudo indica que, pelos franciscanos e com o apoio de Isabel de Aragão (raínha santa). 

            Dedicaremos também umas palavras:

- À questão “Filioque” que terminou no cisma bizantino e na separação das igrejas - grega e de Constantinopla, em relação à igreja latino-romana por causa da procedência do Espírito Santo. E também no abandono, direto ou indireto, do culto ao Espírito Santo em Portugal continental o que se traduziu em maiores incentivos ao cultos dos santos, particularmente ao culto a Nossa Senhora e, daí, a introdução e incentivo do culto a Nossa Senhora da Luz, a partir de Carnide.

            Teremos um apontamento sobre vários conventos ou casas religiosas e as novas funções que desempenham. Veremos  marcas ligadas ao Correio-Mor e outras marcas de correios e telecomunicações.

            - Dedicaremos umas palavras a D. Maria (1521 - 1577) filha do rei D. Manuel I, uma das infantas mais ricas e mais belas do mundo de então; referiremos alguns poemas de Camões, que  pensamos também ter frequentado Carnide, motivado pelo amor impossível ou interditado à infanta que repousa na capela-mor da Igreja da Luz, após tresladação do Mosteiro da Madre de Deus, de Xabregas.

            Fazemos uma abordagem às marcas rurais deixadas na toponímia: azinhagas e quintas, bem como às marcas da urbanização com a passagem de Carnide para o Município de Belém (1852 - 1885).

            Umas palavras também à gestão autárquica, restauração e animação num espaço histórico que sendo alfacinha está perto e longe do bulício de Lisboa. Perto fisicamente, e, longe do ponto de vista psicológico, proporcionando ao habitante e visitante uma certa ruralidade que o poder local tem acautelado como marca de valorização do território e identidade bairrista.
 

segunda-feira, 24 de junho de 2013

AQUILINO RIBEIRO – DA LAPA À SORBONNE PASSANDO PELO M.U.D. E PELA SOCIEDADE PORTUGUESA DE ESCRITORES


          A sua ida para o Colégio da Senhora da Lapa, em 1895, seria o início de um longo percurso. Em 1904 foi expulso do seminário de Beja, depois de ter dado uma “réplica cortante a uma acusação do Padre Manuel Ançã”. Chegou a Lisboa em 1906. Escreve artigos de opinião publicados em jornais, tais como “A Vanguarda”. É tradutor e redige, em parceria com José Ferreira da Silva, o folhetim “A Filha do Jardineiro”, uma ficção onde perpassa a propaganda republicana e a crítica às figuras do regime monárquico, a começar por D. Carlos.       

          Em Paris inscreveu-se em Filosofia na Sorbonne, onde teve a oportunidade de ser discípulo de mestres, tais como George Dumas, André Lalande, Levy Bruhl, Durckeim, e onde contactou com outras figuras portuguesas que, igualmente por motivos políticos, se viram forçadas a sair de Portugal.

          O curso, a política, os projetos editoriais que desenvolveu com os mestres e companheiros de exílio, as crónicas que enviou para Portugal, para publicação, nomeadamente na “Ilustração Portuguesa” e no “jornal A Beira” e as pesquisas de bibliófilo proporcionaram-lhe a oportunidade da escrita. Ainda em Paris, conheceu Grete Tiedemann, sua primeira mulher e mãe do primeiro filho de ambos.

          Em Portugal aderiu ao M.U.D. (Movimento de Unidade Democrática) e empenhou-se na defesa e difusão da causa da Democracia e Liberdade, por exemplo, em textos publicados na imprensa diária.

          Em 1948-49 apoiou a campanha presidencial de Norton de Matos. Integrou, com outras figuras do saber, a Comissão Promotora do Voto.

          Militou na candidatura de Humberto Delgado à presidência da República, no ano de 1958.  

          Criou, com alguns contemporâneos, a Sociedade Portuguesa de Escritores, de que foi fundador e presidente nos anos 50`s.

          Foi proposto à candidatura do Prémio Nobel por Francisco Vieira de Almeida e subscrito por José Cardoso Pires, David Mourão-Ferreira, Urbano Tavares Rodrigues, José Gomes Ferreira, Maria Judite de Carvalho, Joel Serrão, Mário Soares, Vitorino Nemésio, Abel Manta, Alves Redol, Luísa Dacosta, Vergílio Ferreira, entre outros.      

          Assistiu ao movimento em sua defesa, após a publicação do romance “Quando os Lobos Uivam”, em 1958. Este romance foi considerado pelo regime de Salazar como “injurioso das instituições de poder”. Instauraram-lhe, por isso, um processo crime.

          O advogado Heliodoro Caldeira encarregou-se da sua defesa formal, contando com o apoio de cerca de 3 centenas de intelectuais portugueses que se juntaram num abaixo-assinado, a fim de obterem o arquivamento do processo. Lá fora, contou com uma petição redigida por François Mauriac assinada por figuras relevantes, tais como: Louis Aragon, André Maurois e publicada em vários media franceses.       
          Na língua portuguesa Aquilino imprimiu uma “plasticidade impressionante combinando o rústico com o erudito. [...] Criou uma galeria de personagens passando pelos: campesino, pequeno-burguês, cosmopolita, idealista,  obcecado, asceta e sibarita” (1) alguém que deixou para os posteros uma “visão exaltante da existência”. […] (2)

Notas e fontes:

(1)             Sibarita: pessoa ou grupo urbano de gostos refinados pela mulher tentadora e pela virgem solícita e generosamente disponível (dic. Web / Google / http://ar.answers.yahoo.com/question/index?qid=20070525173559AATc3fs ;

(2)             Cf. http://cvc.instituto-camoes.pt/conhecer/bases-tematicas/figuras-da-cultura-portuguesa/1398-aquilino-ribeiro.html;  acedidos e resumidos  em 24.01.2013).